![Antero Quental Antero Quental](/media/images/antero-quental_iZUGTYX.jpg)
A uma Mulher
Para tristezas, para dor nasceste.
Podia a sorte pôr-te o berço estreito
N'algum palácio e ao pé de régio leito,
Em vez d'este areal onde cresceste:
Podia abrir-te as flores — com que veste
As ricas e as felizes — n'esse peito:
Fazer-te... o que a Fortuna há sempre feito...
Terias sempre a sorte que tiveste!
Tinhas de ser assim... Teus olhos fitos,
Que não são d'este mundo e onde eu leio
Uns mistérios tão tristes e infinitos,
Tua voz rara e esse ar vago e esquecido,
Tudo me diz a mim, e assim o creio,
Que para isto só tinhas nascido!
Podia a sorte pôr-te o berço estreito
N'algum palácio e ao pé de régio leito,
Em vez d'este areal onde cresceste:
Podia abrir-te as flores — com que veste
As ricas e as felizes — n'esse peito:
Fazer-te... o que a Fortuna há sempre feito...
Terias sempre a sorte que tiveste!
Tinhas de ser assim... Teus olhos fitos,
Que não são d'este mundo e onde eu leio
Uns mistérios tão tristes e infinitos,
Tua voz rara e esse ar vago e esquecido,
Tudo me diz a mim, e assim o creio,
Que para isto só tinhas nascido!