Ausencia
Lúgubre solidão! Ó noite triste!
Como sinto que falta a tua Imagem
A tudo quanto para mim existe!
Tua bemdita e efémera passagem
No mundo, deu ao mundo em que viveste,
Á nossa bôa e maternal Paisagem,
Um espirito novo mais celeste;
Nova Forma a abraçou e nova Côr
Beijou, sorrindo, o seu perfil agreste!
E ei-la agora tão triste e sem verdor!
Depois da tua morte, regressou
Ao seu velhinho estado anterior.
E esta saudosa casa, onde brilhou
Tua voz num instante sempiterno,
Em negra, intima noite se occultou.
Quando chego á janela, vejo o inverno;
E, á luz da lua, as sombras do arvoredo
Lembram as sombras pálidas do Inferno.
Dos recantos escuros, em segredo,
Nascem Visões saudosas, diluidos
Traços da tua Imagem, arremêdo
Que a Sombra faz, em gestos doloridos,
Do teu Vulto de sol a amanhecer...
A Sombra quer mostrar-se aos meus sentidos...
Mas eu que vejo? A luz escurecer;
O imperfeito, o indeciso que, em nós, deixa
A amargura de olhar e de não vêr...
A voz da minha dôr, da minha queixa,
Em vão, por ti, na fria noite clama!
Dir-se-á que o céu e a terra, tudo fecha
Os ouvidos de pedra! Mas quem ama,
Embora no silencio mais profundo,
Grita por seu amor: é voz de chama!
E eu grito! E encontro apenas sobre o mundo,
Para onde quer que eu olhe, aqui, além,
A tua Ausencia tragica! E no fundo
De mim proprio que vejo? Acaso alguem?
Só vejo a tua Ausencia, a Desventura
Que fez da noite a imagem de tua Mãe!
A tua Ausencia é tudo o que murmura,
E mostra a face triste á luz da aurora,
E se espraia na terra em sombra escura...
Quem traz o outomno ao meu jardim agora?
Quem muda em cinza o fogo do meu lar?
E quem soluça em mim? Quem é que chora?
É a tua Ausencia, Amôr, que vem turbar
Esta alegria etérea, nuvem, asa
De Anjo que, ás vezes, passa em nosso olhar!
O Sol é a tua Ausencia que se abrasa,
A Lua é tua Ausencia enfraquecida...
Da tua Ausencia é feita a minha vida
E os meus versos tambem e a minha casa.
Como sinto que falta a tua Imagem
A tudo quanto para mim existe!
Tua bemdita e efémera passagem
No mundo, deu ao mundo em que viveste,
Á nossa bôa e maternal Paisagem,
Um espirito novo mais celeste;
Nova Forma a abraçou e nova Côr
Beijou, sorrindo, o seu perfil agreste!
E ei-la agora tão triste e sem verdor!
Depois da tua morte, regressou
Ao seu velhinho estado anterior.
E esta saudosa casa, onde brilhou
Tua voz num instante sempiterno,
Em negra, intima noite se occultou.
Quando chego á janela, vejo o inverno;
E, á luz da lua, as sombras do arvoredo
Lembram as sombras pálidas do Inferno.
Dos recantos escuros, em segredo,
Nascem Visões saudosas, diluidos
Traços da tua Imagem, arremêdo
Que a Sombra faz, em gestos doloridos,
Do teu Vulto de sol a amanhecer...
A Sombra quer mostrar-se aos meus sentidos...
Mas eu que vejo? A luz escurecer;
O imperfeito, o indeciso que, em nós, deixa
A amargura de olhar e de não vêr...
A voz da minha dôr, da minha queixa,
Em vão, por ti, na fria noite clama!
Dir-se-á que o céu e a terra, tudo fecha
Os ouvidos de pedra! Mas quem ama,
Embora no silencio mais profundo,
Grita por seu amor: é voz de chama!
E eu grito! E encontro apenas sobre o mundo,
Para onde quer que eu olhe, aqui, além,
A tua Ausencia tragica! E no fundo
De mim proprio que vejo? Acaso alguem?
Só vejo a tua Ausencia, a Desventura
Que fez da noite a imagem de tua Mãe!
A tua Ausencia é tudo o que murmura,
E mostra a face triste á luz da aurora,
E se espraia na terra em sombra escura...
Quem traz o outomno ao meu jardim agora?
Quem muda em cinza o fogo do meu lar?
E quem soluça em mim? Quem é que chora?
É a tua Ausencia, Amôr, que vem turbar
Esta alegria etérea, nuvem, asa
De Anjo que, ás vezes, passa em nosso olhar!
O Sol é a tua Ausencia que se abrasa,
A Lua é tua Ausencia enfraquecida...
Da tua Ausencia é feita a minha vida
E os meus versos tambem e a minha casa.