Círculo Vicioso
Machado de Assis
Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:"Quem me dera que fosse aquela loura estrela,Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!"Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:"Pudesse eu copiar o transparente lume,Que, da grega coluna à gótica janela,Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela!"Mas a lua, fitando o sol, com azedume:"Mísera! tivesse eu aquela enorme, aquelaClaridade imortal, que toda a luz resume!"Mas o sol, inclinando a rútila capela:"Pesa-me esta brilhante auréola de nume...Enfara-me esta azul e desmedida umbela...Por que não nasci eu um simples vaga-lume?"Publicado no livro Poesias Completas (1901). Poema integrante da série Ocidentais.