Tu Vais, Avezinha? Vais?...
(Depois de ler Marília de Dirceu)
Ó mimoso passarinho
Que guardas teu meigo ninho
Suspenso nos matagais!
Vai levar à minha amada
Esta cartinha orvalhada
De saudades imortais!
Tu vais, avezinha? Vais?...
Vai, por Deus! Abre as asinhas
Borrifadas, bonitinhas,
Luzentes como cristais…
Vai, avezinha bonita,
Levar-lhe esta carta escrita
Com os suspiros e os meus ais!
Tu vais, avezinha? Vais?...
Vai! Atende aos rogos meus!
Vai, avezinha de Deus;
Tem compaixão dos meus ais!
Eu te ensino, tu não erras.
Voa sobre aquelas serras
Cobertas de vegetais…
Tu vais, avezinha? Vais?
Olha, avezinha! Eu te ensino:
Busca o clarão matutino
Que vem dourando os trigais..
Ao lado de verde monte
Avistarás uma ponte,
Um rio, um pequeno cais…
Tu vais, avezinha? Vais?...
Queres saber, avezinha,
Da Nilda que é toda minha
Quais são os meigos sinais?
Se eu te disser, avezinha,
Tu vais levar a cartinha?
Tu vais, avezinha? Vais?...
Escuta, avezinha santa,
Da Nilda tudo o que encanta
O coração dos mortais:
Cabelo grande, castanho,
Uns olhos desse tamanho…
Como dois sóis tropicais!
Vai levar-lhe esta cartinha…
Tu vais, avezinha? Vais?...
Da Nilda o porte é sereno,
Corpo delgado, moreno,
Mãos delicadas, sensuais;
Sobrancelhas depiladas,
Olheiras arroxeadas,
Dentes lindos, naturais…
Ave, minh’alma está louca!
Vai dar-lhe um beijo na boca!
Tu vais, avezinha? Vais?...
A minha Nilda formosa
Tem a boca volutuosa,
Rosada como os corais;
“Fronte vasta, cinta breve”,
Pezinhos que andam de leve,
Como a sombra dos ramais…
Vai ver como a Nilda é linda!
Tu vais, avezinha? Vais?...
Vai, avezinha! Hás de vê-la
Bonita… qual fosse a Estrela
Dos Três Magos Orientais!
Na janela debruçada
Hás de vê-la deslumbrada
Olhando as águas fluviais…
Vai ver como o rio canta!
Vai ver como a Nilda encanta!
Tu vais, avezinha? Vais?...
Ela é doida de ciúmes…
Queres saber os perfumes
De que ela se incensa mais?
— Zamora... Rostand... Coty…
Os olhos de Dorothy
São gêmeos dos dela, iguais…
Vai ver que mimosa artista!
Vai ver que linda pianista!
Tu vais, avezinha? Vais?...
Ao chegares à janela
Ouvirás dos lábios dela:
“ — Donde vens, ave? Onde vais?”
E, se por lá demorares,
Recitará, pra escutares,
Meus versos sentimentais…
Vai saber se isso é verdade!
Vai logo, por caridade!
Tu vais, avezinha? Vais?...
Ave, não sejas ingrata!
Esta saudade me mata,
Não me deixes sofrer Mais!
Tu vais levar a cartinha?
Vai, que eu te pago, avezinha!
Tu vais, avezinha? Vais?
Vai logo, avezinha louca!
Vai dar-lhe um beijo na boca!
Nos seus lábios sensuais…
Mas... não! Não dês, nem tampouco,
Que eu tenho um ciúme louco…
Não quero que a beijes mais!
Basta levar a cartinha…
Tu vais, avezinha? Vais?...
Vai! Toma a carta em teu bico!
Vai bem ligeiro, que eu fico
Pensando nela, demais…
A pedido!... vai depressa!
Já sabes: a estrada é essa…
— Muito bem! Já sei que vais!
Sertânia — Pernambuco, 1944.
Ó mimoso passarinho
Que guardas teu meigo ninho
Suspenso nos matagais!
Vai levar à minha amada
Esta cartinha orvalhada
De saudades imortais!
Tu vais, avezinha? Vais?...
Vai, por Deus! Abre as asinhas
Borrifadas, bonitinhas,
Luzentes como cristais…
Vai, avezinha bonita,
Levar-lhe esta carta escrita
Com os suspiros e os meus ais!
Tu vais, avezinha? Vais?...
Vai! Atende aos rogos meus!
Vai, avezinha de Deus;
Tem compaixão dos meus ais!
Eu te ensino, tu não erras.
Voa sobre aquelas serras
Cobertas de vegetais…
Tu vais, avezinha? Vais?
Olha, avezinha! Eu te ensino:
Busca o clarão matutino
Que vem dourando os trigais..
Ao lado de verde monte
Avistarás uma ponte,
Um rio, um pequeno cais…
Tu vais, avezinha? Vais?...
Queres saber, avezinha,
Da Nilda que é toda minha
Quais são os meigos sinais?
Se eu te disser, avezinha,
Tu vais levar a cartinha?
Tu vais, avezinha? Vais?...
Escuta, avezinha santa,
Da Nilda tudo o que encanta
O coração dos mortais:
Cabelo grande, castanho,
Uns olhos desse tamanho…
Como dois sóis tropicais!
Vai levar-lhe esta cartinha…
Tu vais, avezinha? Vais?...
Da Nilda o porte é sereno,
Corpo delgado, moreno,
Mãos delicadas, sensuais;
Sobrancelhas depiladas,
Olheiras arroxeadas,
Dentes lindos, naturais…
Ave, minh’alma está louca!
Vai dar-lhe um beijo na boca!
Tu vais, avezinha? Vais?...
A minha Nilda formosa
Tem a boca volutuosa,
Rosada como os corais;
“Fronte vasta, cinta breve”,
Pezinhos que andam de leve,
Como a sombra dos ramais…
Vai ver como a Nilda é linda!
Tu vais, avezinha? Vais?...
Vai, avezinha! Hás de vê-la
Bonita… qual fosse a Estrela
Dos Três Magos Orientais!
Na janela debruçada
Hás de vê-la deslumbrada
Olhando as águas fluviais…
Vai ver como o rio canta!
Vai ver como a Nilda encanta!
Tu vais, avezinha? Vais?...
Ela é doida de ciúmes…
Queres saber os perfumes
De que ela se incensa mais?
— Zamora... Rostand... Coty…
Os olhos de Dorothy
São gêmeos dos dela, iguais…
Vai ver que mimosa artista!
Vai ver que linda pianista!
Tu vais, avezinha? Vais?...
Ao chegares à janela
Ouvirás dos lábios dela:
“ — Donde vens, ave? Onde vais?”
E, se por lá demorares,
Recitará, pra escutares,
Meus versos sentimentais…
Vai saber se isso é verdade!
Vai logo, por caridade!
Tu vais, avezinha? Vais?...
Ave, não sejas ingrata!
Esta saudade me mata,
Não me deixes sofrer Mais!
Tu vais levar a cartinha?
Vai, que eu te pago, avezinha!
Tu vais, avezinha? Vais?
Vai logo, avezinha louca!
Vai dar-lhe um beijo na boca!
Nos seus lábios sensuais…
Mas... não! Não dês, nem tampouco,
Que eu tenho um ciúme louco…
Não quero que a beijes mais!
Basta levar a cartinha…
Tu vais, avezinha? Vais?...
Vai! Toma a carta em teu bico!
Vai bem ligeiro, que eu fico
Pensando nela, demais…
A pedido!... vai depressa!
Já sabes: a estrada é essa…
— Muito bem! Já sei que vais!
Sertânia — Pernambuco, 1944.