Visões do Crepúsculo
Que lindas paisagens
aqui não se misturam
No lento mistério desta hora divina!
Que doce magia da terra — que abisma…
Do céu — que deslumbra…
do sol — que ilumina!
São tantas as cenas
que esta hora desdobra
Nos ternos enlevos dos páramos seus,
Que as almas se evolam nas asas do Sonho
Cantando a beleza
das coisas de Deus!
A voz da graúna
soluça na terra…
Na várzea tristonha responde o tetéu…
Qual pálida virgem a tarde cansada
Desmancha os cabelos
com os dedos no céu!
Os ramos se beijam,
nas frondes fecundas,
Gozando a carícia de mornos perfumes;
E os raios pincelam com traços vermelhos
O vulto longínquo
da crista dos cumes!
As sombras se deitam
na pluma dos vales
Do beijo do orvalho bebendo a ambrosia;
E a noite agoureira se estira na terra
Com as asas de chumbo
nos ombros do dia!
O vento se espanta
na curva da estrada,
Ferindo o silêncio do campo esquisito;
E as nuvens espanam com leques de seda
A concha solene
do azul infinito!
As árvore frescas
ao pé do regato
Perfumam-se crespas na linfa que estua;
E os ramos desenham bonecos de sombras
Que correm brincando
Com os raios da lua!
Aqui, no meu quarto
também há paisagens:
No pátio levantam-se finos bambus…
Um ramo de orquídeas enfeita a janela
E as sombras se infiltram
nas rendas de luz!
Ao lado da rede
branquinha de sono
Declinam-se as franjas azuis do divã;
E o jarro inda exala suaves perfumes
Das flores que nele
deixei, de amanhã!
As luvas que lembram
teus dedos morenos
Esperam saudosas as mãos que virão…
E eu vejo na réstea da luz na parede
Suspenso ao cabide
— teu lindo roupão!
No branco cinzeiro
— vergel de mudanças
Onde ouço a Saudade chorar de agonia —
Cigarros queimados me lembram, agora,
Sobejos de um sonho…
pedaços de um dia!...
Em cima do espelho
meu pente inda guarda
Uns fios roubados de tuas madeixa…
E o lenço de seda retrata-se os lábios
Na marca dos beijos
que às vezes lhe deixas!
No santo silêncio
desta hora bendita
Relembro teus olhos — meu únicos bens —
E as vozes da brisa teimando com as folhas
Parecem teus passos
dizendo que vens!...
Recolhem-se as cousas
no leito da noite
Gozando a quietude das horas amenas…
E a selva segreda sagrados segredos
Às sombras sozinhas
que sonham… serenas!
Fortaleza, 1945.
aqui não se misturam
No lento mistério desta hora divina!
Que doce magia da terra — que abisma…
Do céu — que deslumbra…
do sol — que ilumina!
São tantas as cenas
que esta hora desdobra
Nos ternos enlevos dos páramos seus,
Que as almas se evolam nas asas do Sonho
Cantando a beleza
das coisas de Deus!
A voz da graúna
soluça na terra…
Na várzea tristonha responde o tetéu…
Qual pálida virgem a tarde cansada
Desmancha os cabelos
com os dedos no céu!
Os ramos se beijam,
nas frondes fecundas,
Gozando a carícia de mornos perfumes;
E os raios pincelam com traços vermelhos
O vulto longínquo
da crista dos cumes!
As sombras se deitam
na pluma dos vales
Do beijo do orvalho bebendo a ambrosia;
E a noite agoureira se estira na terra
Com as asas de chumbo
nos ombros do dia!
O vento se espanta
na curva da estrada,
Ferindo o silêncio do campo esquisito;
E as nuvens espanam com leques de seda
A concha solene
do azul infinito!
As árvore frescas
ao pé do regato
Perfumam-se crespas na linfa que estua;
E os ramos desenham bonecos de sombras
Que correm brincando
Com os raios da lua!
Aqui, no meu quarto
também há paisagens:
No pátio levantam-se finos bambus…
Um ramo de orquídeas enfeita a janela
E as sombras se infiltram
nas rendas de luz!
Ao lado da rede
branquinha de sono
Declinam-se as franjas azuis do divã;
E o jarro inda exala suaves perfumes
Das flores que nele
deixei, de amanhã!
As luvas que lembram
teus dedos morenos
Esperam saudosas as mãos que virão…
E eu vejo na réstea da luz na parede
Suspenso ao cabide
— teu lindo roupão!
No branco cinzeiro
— vergel de mudanças
Onde ouço a Saudade chorar de agonia —
Cigarros queimados me lembram, agora,
Sobejos de um sonho…
pedaços de um dia!...
Em cima do espelho
meu pente inda guarda
Uns fios roubados de tuas madeixa…
E o lenço de seda retrata-se os lábios
Na marca dos beijos
que às vezes lhe deixas!
No santo silêncio
desta hora bendita
Relembro teus olhos — meu únicos bens —
E as vozes da brisa teimando com as folhas
Parecem teus passos
dizendo que vens!...
Recolhem-se as cousas
no leito da noite
Gozando a quietude das horas amenas…
E a selva segreda sagrados segredos
Às sombras sozinhas
que sonham… serenas!
Fortaleza, 1945.